sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

rotina



Depois da penúltima aplicação eu preferi ficar na minha. Não queria dizer pra todo mundo como eu me sentia. Ou ficar fazendo farofa sobre a minha vida. Também não queria ver ninguém, quase ninguém. Não que eu estivesse deprimida ou coisa do tipo. Eu só queria ficar tranquila e esperando passar uma dor insuportável no braço por causa do remédio.

O que mais me assustou esse tempo todo foi um medo, pequeno, mas real de que eu voltasse a ter dores. As mesmas dores. Eu sou humana, né? Eu fiquei com medo de ter dado alguma coisa errada ou de eu ter feito algo errado e as dores estivessem voltando. Mas tudo ficou bem. As dores diminuíram e sumiram até. A minha imunidade voltou ao normal pra situação. Muitos leucócitos, isso é bom. A sinusite deu um tempo, o clima tem ajudado também.

Aquela velha historia que eu já cansei de repetir aqui... Paciência é a única coisa que eu tenho que ter daqui pra frente. Só faltam 4 meses. Antes eram 6, olha quanta diferença!

Ah! Semana que vem eu vou por um cateter pra ficar melhor e não ter que me furar de 15 em 15 dias e pararem as dores malucas. Afinal todos os outros efeitos colaterais já amenizaram e sumiram. Só essa dor chata que enchia o saco. Fiquei com receito de por o cateter por causa da anestesia, não sabia como ia ser, enfim. Mas o Dr. Adib me disse que era local, volto pra casa no mesmo dia. Tudo sussa!

A cada dia que passa eu quero logo voltar ao meu dia a dia de costume. Fico olhando as fotos do pessoal no ensaio do ballet no curso que eu sempre faço desde 2007 nas férias... Nossa! Não estar lá dançando me dói tanto. Morro de saudade. Quase choro todos os dias. Mas vai passar. Eu acho. Sinto falta dos meus amigos, da faculdade... Da minha vida. Queria abraçar tudo e todo mundo rápido. Piscar e já ser julho e estar atestada de alta definitivamente.

Nada demais. Eu sei que eu vou ficar boa, que eu já estou consideravelmente melhor. Então, todas as vezes que eu peço alguma coisa pra Deus é que passe o mais rápido possível. Espero que ele me escute todos os dias.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

As novidades



Vamos lá... Era uma virose mesmo. Mas tudo bem! Podia acontecer de qualquer forma. Alguém que estivesse gripado, na rua mesmo... Enfim. Já falei que o clima de Belém não colabora muito mesmo. Tive que adiar a QT. Sinceramente eu achei melhor mesmo, sabe?! Pelo menos eu vou poder comer a ceia mais tranquila.

Bem, tirando as dores no joelho que me levaram ao hospital – por acaso, eu fui a urgência da unimed e tive a sorte de ser atendida pela minha médica que estava de plantão! - nós ainda não descobrimos a causa exata. O que deve ter muito a ver com lesões antigas. As coisas estão bem melhores e eu estou mais disposta. O fato de ter parado de tomar corticoide todos os dias me faz uma bem enorme. Eu já desinchei bastante, não tudo, mas já tenho queixo de novo! O que é bem bom!

Sabe... Esses dias foram meio complicados. Desde que eu comecei todo o processo eu sabia que várias coisas poderiam acontecer. Uma delas seriam as mudanças no meu corpo (o que tem sido engraçado porque meus músculos estão reclamando com algumas coisas que estão voltando ao normal). A primeira pergunta que eu fiz aos médicos quando saiu o diagnostico e o tipo de tratamento foi: Eu vou ficar careca?

Pois bem, com 10 dias de tratamento o meu cabelo começou a cair... Desabar da minha cabeça. Apesar de saber que isso poderia acontecer, é meio complicado ver o seu cabelo sair da cabeça só de passar a mão. No banho, deitada, no broche... Então eu raspei. Ainda tem uma camada de cabelo aqui que o rapaz ficou com pena de tirar... Mas já era, tenho buracos graciosos de falta de cabelo também. Ainda não me acostumei com a imagem, mas parece que é mais real que antes. Eu sei que daqui a pouco vai voltar tudo. Eu sei mesmo, mas é meio difícil no começo.

A gente pensa tanta coisa nesse momento. E têm dias que se acha fraco demais para aguentar as dores, os efeitos colaterais. Mas é assim. Não adianta vestir uma armadura e tentar enfrentar tudo como se fosse um guerreiro inabalável. Tem dias que é preciso por a boca no trombone e por pra fora tudo que incomoda. Eu fiz isso um dia desses e agora estou firme e forte enfrentando tudo como antes. A ansiedade tem passado, as coisas tem voltado ao “normal”.

Até a minha agonia natalina passou. Eu estou bem tranquila esses dias. Mais do que eu imaginava que estaria. E acho que isso é importante. Na verdade é muito importante. Deu até no resultado do exame. Estresse e abalos emocionais são importantes nesse momento. Importantes quando te deixam fragilizado e acabam afetando o corpo. É... As vezes a gente acha que não. Mas estar com a mente boa ajuda demais o nosso corpo a ficar bem. Então, graças  Deus eu tenho ficado cada dia melhor e me cuidado cada dia mais. Estou contando os dias para poder passear e olhar a rua, por uma roupa arrumadinha, maquiagem e um lenço bonito na cabeça. Passear, enfim. Mas tenho que ter cuidado. E me cuidar o que é mais importante não é estar colado nas pessoas e presente em todos os eventos e sim estar bem e viver bem. Só de saber que todos estão comigo é mais importante que estar por ai. Por enquanto.

É uma questão de paciência, a gente não pode se deixar abalar. E se isso acontecer... Bem, respirar fundo, e seguir em frente. Afinal a gente não é forte por cair uma vez ou outra e sim por levantar de todas as quedas, tropeços...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Apenas palavras



Hoje, ontem, amanhã... Espero que daqui pra frente eu acorde me sentindo bem melhor. Claro, ainda tem uma dor aqui e ali, um rostinho de lua cheia, essas coisas chatinhas... Enfim. Acho que essa é a máxima do tratamento, né?! Se sentir cada dia melhor. E assim vai sendo.

Mas o que tem me martelado a cabeça esses dias – além da minha meta de comer coisas legais (que eu posso, claro) nesse período – tem sido o verdadeiro significado das coisas. O porquê de tudo isso. Como lidar e tudo mais. Acredito que seja normal ficar meio atordoado. Sem entender as coisas direito. Veja só, eu me esqueci de concluir e entregar um trabalho da faculdade. Fiquei desesperada por alguns segundos em casa. Mas passou. Eu resolvo isso depois.

Aquela ansiedade do começo para começar tudo. Também passou. E a quimioterapia para começar logo. Iniciou. Os efeitos, as surpresas e os sustos. Enfim, tudo isso vai passando e a gente vai caminhando. É uma estrada e a gente não tem como correr. Vamos apenas caminhando no ritmo que ela manda. As coisas vão fluindo bem, muito bem. Tem dias que a gente pensa que ainda falta tanto. Só que esse “tanto“ tem um significado diferente. Eu já disse a minha vida parou. Eu estou reaprendendo muita coisa e reencontrando valores que eu havia perdido faz tanto tempo que mal sabia que ainda existiam. E nessa jornada as coisas vão fluindo de forma tão natural que eu mal posso explicar. Não tem como explicar.

Quando as coisas acontecem nas nossas vidas, entendemos que, com certeza, tem um motivo. Nada é à toa. Não mesmo! E eu sei que isso tudo que como tem um motivo e, aos poucos, eu vou compreendendo tudo. Um dia após o outro. Não estou aqui para mudar o mundo e de alguma forma ser sacerdotal a solução da vida das pessoas. Eu estou recuperando valores indescritíveis e reconhecendo pessoas maravilhosas na minha vida. Reconhecendo os pequenos valores de certas coisas que eu nem pensei que pudesse ter perdido com o tempo.

E hoje, quem diria, eu tão cheia de palavras tenho que me acostumar que elas são tão vazias nesse contexto todo. E que podia passar dias digitando, escrevendo cartas, cartões e declarando meu amor a todos por aqui ou em qualquer outro lugar. Mas de forma alguma eu vou conseguir uma forma de agradecer as coisas boas que tem acontecido. Podia citar nome por nome – Fátima, Carlos, Léo, Larissa, Tia Cristina, Tio Miguel, Tia Sueli, Babi, Thassia, Tio Paulo, Tia Claudia, Plaulinho, Lucas, Thalita, Thais, Dindinha, Dindinho, Claudio, Claudinho, Joelma, Cláudia, Marina e uma lista enorme que eu me perco - mas daria muito trabalho e eu esqueceria de algumas pessoas fica meio “deselegante”. E eu só sei que vão passar anos da minha vida eu não vou saber como agradecer a todos por ter me dado tanto apoio quando eu precisei. Não só pra cuidar de mim fisicamente. Mas principalmente da parte mais importante, por dentro. A minha nova chance de viver e ser de alguma forma uma pessoa com um coração e um espirito melhor. Talvez seja esse mesmo o sentido de tudo isso. Algumas coisas chatas acontecem pelo caminho, mas a gente tem que deixar isso de lado e lembrar sempre das coisas boas. E eu sou muito grata a todas as coisas boas que tem me acontecido esses tempos. E EU digo todos os dias a Deus que eu vou encontrar uma forma de ser grata a todas essas pessoas. Que estão ao meu lado nessa caminhada. Daqui pra maio termina o tratamento e eu fico bem. Enquanto isso eu vou trabalhando uma forma de agradecer a Deus por ter me dado tanta gente boa nessa vida. Nunca vou poder agradecer tudo isso! Vou ficar velhota sendo grata a todos. E não só por isso. E não só por agora.

Vamos lá, as coisas já começaram. Agora é só fluir e viver.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Voltei



Quando tudo começa ninguém sabe muito bem que rumo as “coisas” vão tomar. Eu não faço ideia, já disse. Cada dia, pra mim, é uma surpresa. Algumas coisas eu já me acostumei e aprendi a contornar, outras ainda me incomodam. Mas com o tempo a gente vai ajustando. Na medida do possível eu tenho me sentido bem melhor. Tirando algumas surpresas dos dias – como as dores musculares que me pegaram de surpresa. Afinal de contas eu achei que já era bailarina de novo e fiz estripulias. Mas dura só um dia ou dois. Hoje já nem dói mais tanto.

Claro que eu sabia que não seria fácil. E se por algum acaso eu imaginei que ia acordar todos os dias sorrindo para o Sol e dando bom-dia aos passarinhos, bem... Ilusões. Não me pergunto o motivo de ter acontecido comigo, mas a gente fica cansada, entediada ou qualquer coisa assim. Mas a gente se anima. O que eu mais quero agora é organizar meu sono. Talvez eu precise fazer mais coisas para gastar energia. É... A hora de dormir tá complicado mesmo. Eu gosto de dormir, sabe?! Admiro como se fosse uma arte. Fico chateada quando eu perco o sono.

Ontem eu parei para pensar que é só o começo. Fiquei um pouco preocupada. São seis meses de tratamento! E eu fiz a primeira aplicação do primeiro ciclo. Então você começa a pensar “nossa! Ainda tem tanto!”. Mas ai se acalma e pensa são só seis meses. O que são seis meses para 23 anos né? Nada! O que me anima é saber que os próximos serão melhores. Afinal o meu corpo já vai ter se acostumado com esse “pancadão de remédios”. E as reações diminuem. Tenho tomado bastante cuidado para não me expor, como a médica recomendou. Nem sair de casa eu saio. Mas já tenho vontades de ir passear e comer alguma coisa na rua. O que tem me incomodado por saber que ainda não dá.

Enquanto isso eu vou fazendo meus planos para fevereiro – quando termina o prazo do meu atestado – e vendo o que eu posso fazer. Aulas do francês, faculdade, estudar em casa para um projeto da agencia da faculdade... Enfim. A gente precisa se animar para as coisas funcionarem. Eu assumo que fiquei meio pra baixo esses dias. Algumas coisas me incomodam bastante e, às vezes, elas tiram as forças da gente. Sabe?! Mas é tudo bobagem. Daí lembra que Deus está com a gente em todos os momentos e as coisas vão melhorando de uma maneira tão sutil que quando vemos está tudo na mais perfeita paz.

Só o fato de já conseguir fazer muitas coisas sozinha já me deixa bem mais animada esses dias. Já estou na ansiedade de poder começar a por em pratica o meu lado mestre cuca! Mas ainda falta um pouco, porque, claro ainda está só no começo. Mas de qualquer forma, graças ao apoio de todos e principalmente a Deus as coisas vão cada dia melhor. E de alguma forma eu vou poder ser grata a TODOS que estão me ajudando, me apoiando, rezando para que as coisas corram bem – não digo para “eu ficar boa”, porque eu tenho certeza disso desde sempre. E eu espero que elas corram cada dia melhor.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Um dia, ou outro...



As coisas vão acontecendo e a gente acha que tem o controle da situação. Eu sabia dos efeitos colaterais da quimioterapia. Sabia que dezenas de coisas poderiam aparecer. Bem, essa estomatite me tira do sério. Tanto que mal conseguia forças para comer. Quanto mais escrever, falar, ficar de bom humor...
Não desanimei, não. Mas tem horas que a gente fica sem paciência. Querer comer e precisar comer e saber que vai fazer tudo isso e vai doer... Foram dois dias difíceis. Não queria receber ninguém em casa. Na verdade, são poucas as pessoas que eu tenho tido paciência em receber. A gente não fica muito disposta no começo. Não tem vontade de ser arrumar, nem quer ficar fazendo caras e bocas. A família nem conta. Eles me vêm de qualquer jeito desde que eu nasci. Não me incomodo tanto.
Outra coisa é que a gente fica suando feito uma chaleira. É um suor de remédio chato, bem chato. Fico agoniada e eu não o que fazer. Só esperar mesmo. Só resta esperar essas coisas passarem. Sinto, mais ou menos, - claro numa versão sem terror – naquele filme “O Chamado”. Quando a menina do poço liga e fala: “seven days”. Daí nesta sequencia de dias acontecem vários fatos novos todos os dias. Mais ou menos isso. São aproximadamente dez dias de observação.

O que me deixa feliz? Saber que eu to reagindo bem perto do que poderia ser. Graças a Deus! E dentro desse tempo meus leucócitos continuam comportados, me deixando mais tranquila. E ainda bem que eu consigo comer melhor. E uma das melhores notícias dessa semana foi que a dr. Ana Virginia diminuiu os corticoides. Ou seja: ADEUS FOME DOS LEÕES! Adeus inchaço! Adeus espinhaço! Só não saio comemorando por ai porque ainda não posso. Fiz estripulias esse final de semana e estou me achando o “homem de ferro”.

Claro que eu tenho uma galeria nova de remédios. Mas são todos para o estomago, estomatite, dor de barriga e anti-inflamatórios. São bem sossegados e tem um que é até gostoso de tomar. Mas enquanto isso, eu prefiro evitar visitas. Meu lado vaidoso tem me incomodado um pouco essa semana. Vou esperar passar os efeitos que o corticoide deixou em mim. Não demora muito. Depois eu volto a amar as pessoas pessoalmente. Até porque ainda estou naquele período que é melhor evitar muitos contatos. E na verdade, eu não tinha muita paciência. Algumas horas a gente vai preferindo ficar tranquila. E eu estou bem desse jeito. Querendo mais tranquilidade que movimentação. E não aguento mais suco de graviola, me dá vontade de vomitar só de falar o nome dessa fruta.